"As pessoas..."
Baseado no artigo "Ai os outros!..." de Joaquim Fidalgo, Público de 29/Novembro.
É engraçado como cada um observa o que está à sua volta num exercício de contagem semelhante ao das crianças que num grupo de 5 contam 4 por não terem olhado para si (não havia espelho e o contador estava fora do seu campo de visão). A minha namorada tinha-me dito: "ninguém se acha paradigmático ou representativo de uma realidade do seu país" a propósito de estereótipos e características atribuídas a povos e culturas. Agora este senhor escreve no jornal que somos um país de "outros" porque 90% dos potrtugueses se acham pontuais mas consideram a maior parte dos seus compatriotas atrasados nos horários...
Algo funciona mal, de facto... Quando dizemos: as pessoas têm preconceitos, as pessoas são mal-educadas, as pessoas fazem A, dizem B, comem C, vestem D, bla bla bla...
...não seremos nós pessoas como "as pessoas"? Este síndrome do olho divino que nos faz olhar de fora para a realidade tem de ser reformado, tem de haver um duplo exercício: 1 - saio da realidade e olho em volta, avalio, critico, ajuízo; 2 - volto a mim e incluo-me na análise: também eu sou como as pessoas? Então direi NÓS temos preconceitos, somos mal-educados, fazemos A... Se não faço parte, por via das dúvidas o melhor é começar de novo a análise, se não faço mesmo parte posso falar de "há pessoas que..." para evitar embaraços retroactivos, presentes ou futuros.
Atire a primeira pedra quem nunca tenha sido uma das "pessoas"
Além dos referidos co-autores indirectos deste texto, nos quais me baseei (Enes e Joaquim Fidalgo), tenho de referir o Prof. H.B. que hoje deu na aula de Teoria Política um bom exemplo:
Dia 1, Pessoa A: "as autoridades são brandas para quem estaciona em segunda fila"
Dia 2, Pessoa A: "multa de estacionamento só porque fui ali num instante comprar medicamentos!? Que injusto"
