30.6.07

Some Kind Of Monster


METALLICA - SBSR 07, originally uploaded by Mario Guilherme.


Marx tremeria se visse como a dócil música, arte que apela à contemplação, se transformou no seu pior pesadelo. Nalguns casos substituiu a religião, gerando legiões de fanáticos que seguem os seus ídolos e os defendem como se fossem deuses vivos. Um gesto no palco reflecte-se nos milhares de pessoas que assistem de forma alucinatória a um concerto.
Hurra! disse James Hetfield... ...e logo uma multidão respondeu, como se fossem legionários espartanos (do filme "300"): HURRA!!!!
O público canta sozinho as músicas, gestos e palavras sucedem-se em antecipação como numa cerimónia religiosa. Todos sabem onde se deve gritar, abanar a cabeça, chorar, ligar para o amigo ou namorada, etc.
Há até sinais de um fanatismo egoísta: gente que chama nomes aos seus ídolos para que façam isto ou aquilo. Adoram-nos e insultam-nos em busca das suas intenções para aquele espectáculo.
No palco meia dúzia de mortais (que também comem, dormem, vão ao WC, têm dor de dentes, etc) são assaltados por uma força maior que eles. Ainda que lhes doa a cabeça, ainda que estejam cansados da viagem, ainda que lhes tenha morrido alguém querido... ...tocam e cantam para deleite de milhares de pessoas. É-lhes exigido todos os gestos e rituais da cerimónia, é-lhes exigido um sorriso e boa disposição, empatia. Ainda que tenham tropeçado num dejecto de cão na cidade que se torna deles por um dia apenas têm de elogiar a terra onde tocam e dizer que este público é o melhor de sempre.
Criaram algo poderoso, maior do que a sua mera humanidade e agora têm de estar à altura do mio que inventaram para que não haja represálias por parte dos mesmos que os veneram.
Cada rockstar cria para si uma espécie de monstro que não está no palco mas na atmosfera. Nem sempre são mais livres do que o publico enjaulado à sua frente, por vezes são prisioneiros mesmo.

"Here I am, On the road again
There I am, Up on the stage
There I go, Playin' star again
There I go, Turn the page

So you walk into this restaurant
Strung out from the road
And you feel the eyes upon you
As you're shaking off the cold
You pretend it doesn't bother you
But you just want to explode

(...)

Out there in the spotlight, you're a million miles away
Every ounce of energy, you try and give away
As the sweat pours out your body, like the music that you play"

["Turn The Page", Bob Segar (interpretado por Metallica no álbum Garage, Inc., 1998)]

26.6.07

Lavar e dar de novo


Money Laundering, originally uploaded by tengtan.


Façam contas comigo:
O "Comendador" Berardo (só usa o título de Comendador quem precisa, já que meio país tem uma Comenda) está a fazer um mau negócio com a colecção de arte. Parece que se perde imenso dinheiro em expor obras de arte de que somos proprietários, cobrando um bilhete (excepto a funcionários públicos e sócios de clube de primeira liga, o que diz um pouco da sensibilidade deste coleccionador).
Os merdia nacionais elogiam, dão uma imagem de um santo que voltou ao seu país para espalhar boa vontade: a arte é dada ao povo, o Benfica é comprado mas com cuidado para não interferir no clube, os estudos sobre aeroportos são oferecidos sem nenhum interesse (http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=821297), etc. Tudo cheio de grandes intenções.
Da vida dele, sabe-se que nasceu pobre numa família de meia dúzia de filhos, foi para a África do Sul distribuir hortaliças e acabou por fundar uma empresa de exploração mineira: outro e diamantes. Se saltei alguma coisa foi porque essa informação não está divulgada. Tudo isto tem lógica assim mesmo.
Foi comprando arte, empresas, etc, tudo o que podia dar mais dinheiro até se tornar o 10º português mais rico e um coleccionador (ou será apenas proprietário) com uma colecção maior do que o Guggenheim!

Vejam a opinião deste colega bloger em A Lei De Murphy

25.6.07

studium


Lost without lists, originally uploaded by sleepy terry.

"words, words, words..." dizia Hamlet.

Estudar à pressa para que fique feito mais uma é só isso: estudar à pressa. E o que fica? Para que estudamos afinal?
Para cumprir disciplinas obrigatórias com grande frete? Ou para saber mais? Ou porque gostamos da matéria?
Ou nenhuma destas...

Está a acabar.

23.6.07

Pedido de opinião:

A amiga Marina achou que o SYW andava com muitos posts de política internacional e que podia haver uma separação. Ficariam as filosofias da treta do Enolough para um lado e as suas visões sobre a geopolítica deste planeta para outro.
Que acham disto?

Está fora de moda estar na moda


photo op, originally uploaded by kelco.


A moda é daquelas coisas que nunca agarramos, como o pombo na praça, a sombra na rua, o peixe que desce o rio...
Alguém estabelece uma moda. Só se pode estabelecer uma coisa dessas quando ainda não é moda. As pessoas vão a correr comprar sapatos em bico, botas de metro e meio, roupas camufladas, etc e ficam na moda. É moda o que "está a dar", o que "se usa", que se "tem vendido muito". Acontece que as criaturas na moda ficam confortáveis por estarem normalizadinhos mas desconfortáveis porque a pessoa X tem um casaco igualinho ao seu (talvez porque foi comprado na mesma Zara, Bershka, Pull & Bear, Mango, Salsa ou outro Templo da Padronização equivalente).
Claro que as fábricas precisam de escoar produto e no ano a seguir as roupas "passam de moda" e a moda virou. Geralmente não vem nada de novo, apenas uma maneira de vestir com mais de 10 anos para que nem toda a gente mais nova se lembre de ter usado e para que toda a gente mais velha se lembre perfeitamente bem de ter usado.
Pessoas que gostam de estar na moda: não deitem nada fora porque tudo volta.
Falamos de roupas, claro, mas podíamos falar de CDs, de desportos, etc... tudo o que possa servir como adereço de uma representação social tem uma moda.
A questao é que a moda deixa de o ser quando se torna. (confuso?)

NS III


Through Her Eyes, originally uploaded by Enolough.


Tantas vezes te julgas menor, menos capaz, mais simples... mas eu conheço a complexidade imensa que há em ti, eu sei que és capaz de tudo quanto queiras e já me mostraste isso. Sei que lutas pelo que queres, vi-te conseguir chegar onde muitos invejam, vi-te escrever o que muitos podem ler com um sorriso mas que poucos podiam ter escrito.
Eu vejo todos os dias a maneira como sorris, quase demais, a um mundo que tem de ser cor-de-rosa à força (quando não é acaba por ficar à tua passagem). Eu vejo esse olhar que quer devorar um mundo inteiro num instante, como o instante em que o obturador fixou eternamente este reflexo de mim em ti.
Quanto mais te olho mais me vejo.

Per aspera ad astra!

NS I
NS II

11.6.07

Revolução pela observação

Circular entre espaços sociais diferentes faz-nos bem. É importante perceber como se distribuem as pessoas no corpo social em que nos inserimos, e é importante saber o nosso lugar para melhor compreender o que está acima e abaixo, o que é semelhante e diferente.

Longe de mim comportar-me como um Alpha de A Brave New World, julgando-me mais do que outros. Defendo precisamente que todos nós devíamos uma vez na vida varrer o chão, trabalhar no campo ou numa fábrica, comer refeições desesperadamente básicas, passar fome e sede, ter dores, etc.
Faria bem sentir uma vez na vida, pelo menos, que não sabemos onde estamos e que horas são, que ninguém à volta nos pode ajudar e que a comunicação com qualquer ser humano está impossível. Isto ia fazer com que cada um de nós desse mais importância ao outro, ao vizinho, ao pedinte, ao ministro, ao polícia. Afinal, o que é um indivíduo? Uma peça inútil enquanto indivíduo, já que outro pode fazer o seu lugar, desempenhar o seu papel. O indivíduo é uma parte do todo a que chamamos organização social, é uma peça de interacção. Existe individuo e individualidade em função de existir uma corpo maior que engloba cada indivíduo e lhe dá um sentido. Como só existe um eu quando há um tu, como só existe um nós se houver um eu mais qualquer coisa.

Varrer o chão, servir cervejas, cumprir horários... ...todos devíamos experimentar isto para saber que há uma outra vida. Todos deviamso experimentar isto para saber que existe algo acima e abaixo da vida pseudo-burguesa que eu e o caro leitor partilhamos em comum. Assim, além de ficarmos contentes com o pouco que temos, percebemos que tudo o que temos é pouco e que a mudança é possível.

Não se trata da defesa de uma espécie de socialismo-sorridente, antes de uma atitude de sorriso perante o social, que estou a defender. Temos de reconhecer as vidas, as lutas de cada um, da classe a que esse um pertence, e da sociedade em que essa classe se movimenta. Para poder viver mas também agir sobre o social. As revoluções de hoje são feitas porta-a-porta, como a venda de Biblias. São revoluções silênciosas, à margem, sao como o despertar de algué mpela manhã, sacudindo devagarinho mas provocando uma radical mudança de situação.


10.6.07

Kosovo e Co.

G.Bush pretende a independência do Kosovo. Os mais pessimistas, os mais atentos, os astutos observadores estão a ver aqui uma maneira de aliar a América à Europa, afastando a UE da Rússia.
V.Putin opõe-se à independência do Kosovo. Isto, a questão do sistema de defesa europeu (no que toca aos mísseis) e o despertar da Rússia para o proteccionismo dos combustíveis fósseis são o suficiente para os mais assustadiços temerem uma II Guerra Fria.

Eu defendo a liberdade e independência aos povos, o Estado-Nação é a única forma legítima de governo democrático. Aglomerar várias nações debaixo da mesma alçada governamental é uma forma de imperialismo fora de moda e com cheiro a podre.

Alba (Escócia, Reino Unido),

Ulster (Irlanda do Norte, Reino Unido),

Euskal Herria (País Basco, Espanha),

Kosova (Koso
vo, Sérvia),

كوردستان (Curdistão, Iraque),

etc...

...todos os povos merecem a sua escolha e autonomia (em forma de Região Autónoma ou País).

Claro que isto serve para os Impérios escondidos (ultimamente nem tanto) defenderem os seus interesses através da influência, servindo de turores aos recém-libertos povos, e é aqui que reside o risco de uma II Guerra Fria, na influência que as potências instaladas (EUA e a ténue UE), potências recuperadas (Rússia) e potencias emergentes (China e a mais discreta India) pretendem ter sobre esses povos.

Acredito que essa II GF está por vir, ou melhor, que nunca deixou de existir (esta paragem não foi mais do que um compasso de tempo para desmantelar a URSS e trazer a Rússia com a economia restaurada).

No meio de tudo isto a Europa é um canto de patetas alegres que ora viram a cabeça para o lado Oeste ora para Este como quem está sentado ao topo da mesa observando um diálogo de gigantes que se vai fazendo cada vez menos em surdina.

right now

  • Read: "The Other Side Of The Sky", Arthur C. Clarke
  • Watch: "Pulp Fiction", Q. Tarantino
  • Play: N/A
  • Listen: "greateSt HIT", Dream Theater