25.10.07

On Hitler's Highway

de Lech Kowalski
81´ França/Polónia 2002

"On Hitler's Highway" é um "road-movie" filmado ao longo da estrada construída pelos nazis nos anos trinta para facilitar a invasão da Europa de Leste. Um olhar sobre o passado e o presente da Polónia e sobre as relações entre o Oriente e o Ocidente. Ao longo da estrada, Kowalski filma pessoas que tentam sobreviver como podem: um velho vende cogumelos, algumas crianças lavam os pára-brisas dos carros, prostitutas búlgaras fazem uma pausa para fumar um cigarro, um homem que vende gnomos de jardim recorda com saudade os tempos do comunismo. Prémio Especial do Júri no Festival Internacional de Cinema Documental de Amesterdão em 2003, "On Hitler's Highway" é o segundo tomo da trilogia europeia do realizador, "The Fabulous Art of Surviving", começada em 2000 com "The Boot Factory" e concluída com "East of Paradise" (2005).

Hitler's Highway era dos filmes que eu mais queria ver no festival inteiro. Para castigo abateu-se sobre mim a maior indisposição e náusea de sempre. Ainda assim pude ver o filme até ao fim (embora me tenha sentado no ultimo lugar da fila, pronto a sair a qualquer altura).
Um bom documento da "Autoestrada", o filme parece ter inspirações no Direct Cinema ou na Nouvelle Vague francesa no que toca a tomada de vistas e técnica de captação de imagens. Na montagem as coisas são diferentes. A montagem é bastante actual, recorrendo a uma linguagem que conhecemos bem da televisão. Planos não muito curtos não muito longos, com ritmo moderado, etc. Não precisava de chocar pela montagem com o conteúdo que apresentava: campos de concentração, ciganos reclamando por um país para a sua nação, como a nação judaica teve, prostitutas que revelam os segredos da profissão, guias em bases militares de balística abandonadas (da URSS), etc.
O filme quase consegue o objectivo de nos levar à origem da estrada, aos anos 40 da Alemanha e Polónia, embora eu ache que lhe faltou libertar-se da actualidade e quotidiano das prostitutas para ir mais ao encontro de quem possa saber da origem da estrada de Hitler. O autor tinha um certo fascínio pelas raparigas, nota-se...

A casa do Barqueiro

de Jorge Murteira
63´ Portugal 2007

Paulino é o último barqueiro da Amieira do Tejo. Entre as duas margens do rio é ele quem assegura a ligação. Mas raros são os passageiros e a seu posto de trabalho será brevemente extinto pelo poder. Enquanto isso não acontece, Paulino faz da barraca sobre o rio a sua casa improvisada. Vive ao ar livre e só recolhe quando a chuva, o frio ou o vento apertam. Pede e resmunga uma nova casa em condições. Mas quem o ouve? No Inverno e no Outono, aguarda sozinho os clientes perto da fogueira sobre o vale do rio, atento à passagem dos comboios que raramente trazem fregueses. Na Primavera e no Verão, fica à mesa de sulipas, solitário, mas sempre disponível para partilhar um copo ou um petisco com um turista ocasional.



Hilariante! Não vamos para casa mais ricos de conhecimento ou deslumbrados com os enquadramentos (vi um dedo em frente à objectiva e tudo). Mas o trabalho de um ano e muita paciência deu um documentário original e divertido, graças ao rabugento barqueiro.
Engraçado como sem voz off, sem mostrar coisinhas, sem um guião sequer se consegue fazer um filme cativante para um público generalizado.

Nocturno

de João Nisa
27´ Portugal 2007

Descrição fragmentária do espaço abandonado da antiga Feira Popular de Lisboa, durante o período que decorreu entre o seu encerramento e a definitiva demolição das suas instalações. Um conjunto de longos planos fixos, atravessados por pequenos movimentos, apresenta alguns dos elementos existentes no local (fachadas encerradas ou semidestruídas, divertimentos parcialmente desmontados), reconstituindo através da sua sucessão um percurso no interior do recinto. Um trabalho que pretende forçar a concentração da percepção e explorar a relação entre a experiência temporal e o modo de apreensão visual e sonoro de um lugar específico.



O filme passou a sua mensagem por exaustão. Mais de 20 minutos de filme com pouco mais de uma dúzia de planos e todos fixos. Referi que os enquadramentos eram sempre de casas abandonadas na Feira Popular de Lisboa? Ficámos a perceber que um espaço onde houve movimento é agora um nada, um Urban Void dos que falava a Trienal de Arquitectura de Lisboa este ano.
Para os que queiram queixar-se "isso não é um filme" defendo desde já que não é uma projecção de slides. Há som, há imagem em movimento, só não há movimento na imagem em movimento. Tirando um gato que se atreveu a passar em frente da câmara e que deixou perceber que o filme tinha uma boa qualidade de imagem, como se pode ver na foto acima.

19.10.07

The Monastery

de Pernille Rose Gronkjaer
84´Dinamarca 2006

"The Monastery conta a história de um velho solteirão, o senhor Vig, que nunca se apaixonou e tem um desejo imperioso: transformar o seu castelo semi-abandonado, onde vive sozinho, num mosteiro ortodoxo. Escreve ao patriarca de Moscovo, que envia para a Dinamarca uma pequena embaixada de freiras russas com o objectivo de estudar o pedido do senhor Vig e negociar condições. O conflito entre caracteres e culturas é inevitável. Durante largos meses, o castelão dinamarquês e as freiras russas discutem os mais pequenos detalhes da transformação do local - desde os tubos de aquecimento até à localização do altar da Igreja. As freiras têm as suas próprias ideias e o senhor Vig é obrigado a perceber que o caminho para a concretização do seu sonho será bastante diferente daquilo que tinha imaginado. Vencedor do grande prémio Joris Ivens (IDFA) em 2006."



A Lusomundo devia passar disto...
Este documentário rebenta com uma certa ideia que embora nunca formalizada paira sempre no ar: o documentário ou é didáctico, muito directo, preparado para passar numa TV do Estado ou então é uma obra cinematográfica muito distante e apenas compreensível para uma camada estreita da população. Não.
Este filme tem vários layers e fez rir a audiência. Vemos um confronto de culturas, vemos um velhote simpático mas forreta, e acima de tudo vemos um filme bem pensado e cuidado para ser uma mistura de documentário com entretenimento. Está bem conseguido pela maneira como se montou a história, uma montagem a pensar na narrativa. E claro, a música ajudou bastante porque foi musicado como um filme mainstream seria. Uma verdadeira lição para quem produz e para quem vê (sobretudo para quem não vê) documentários.
E eu até simpatizava com o rabugento do Sr.Vig... pena ele ter morrido sem ver tudo acabado.

Their Frozen Dream

de Jan Troell
60´Suécia, 1997

"Na sequência de uma ficção multipremiada e nomeada para o Oscar de melhor filme estrangeiro ("Flight of the Eagle" - a história de três exploradores suecos que, no final do século XIX, tentaram atingir o pólo norte em balão), Jan Troel realizou o documentário "Their Frozen Dream", sobre o mesmo tema. Com a voz de Max von Sydow que lê excertos dos diários desta aventurosa viagem, o filme é construído a partir de documentos autênticos (cartas, fotografias e textos) descobertos em 1930, entre os vestígios da expedição numa ilha do Oceano Árctico, após 32 anos enterrados no gelo."


O primeiro filme que fui ver (e a razão para este ter sido o primeiro está explicada no post anterior) foi apresentado pelo próprio realizador. Trata-se de um documentário que usa imagens de um filme de ficção baseado no mesmo motivo e realizado pelo mesmo Jan Troell.
O filme usa imagens da época, paradas e em movimento e parte da leitura de cartas e diários dos três expedicionários e de familiares seus. Interessante é o facto de se ter aproveitado tão bem as poucas imagens da época que havia para fazer um filme de uma hora. O ponto fraco está aí também: um minuto mais e o filme era longo demais devido à repetição de imagens e ideias. A história é simples e podia ter sido contada em metade do tempo embora prejudicando a merecida homenagem aos três aventureiros. Partiram em busca do Polo Norte num balão de gás e acabaram por morrer no gelo, tendo sido descobertos 30 anos mais tarde.
Se é verdade que o bom aproveitamento das poucas imagens exigiu uma cuidadosa escolha dos sons para "pintar" o filme também é verdade que se notam oscilações de volume injustificáveis.
Estranho ainda o facto de a cópia parecer estar em tão mau estado, principalmente no início do filme mas isso não cheguei a perceber se foi efeito ou defeito :)



doclisboa


Inicia-se aqui uma série de posts que não são crítica de filmes e muito menos crítica de cinema. São um registo das minhas opiniões e sensações ao ver os filmes do DocLisboa e servem mais para guardar essas impressões em lugar que me lembre (é que eu tenho uma mesa de trabalho muito desorganizada) do que para tornar públicas as minhas opiniões.
Começo com uma crítica... não fosse um erro de impressão no programa e no bilhete do festival e eu teria visto a sessão quádrupla "Cherkasy / Artel / Scythian Suite / 1937" que era das sessões que mais me atraía no festival. Rapidamente me trocaram por outro bilhete.

11.10.07

Menção honrosa

O post do mês vai para:

La Dolce Vita

da amiga Alexandra.

Salma

Uma boneca respeitável:

right now

  • Read: "The Other Side Of The Sky", Arthur C. Clarke
  • Watch: "Pulp Fiction", Q. Tarantino
  • Play: N/A
  • Listen: "greateSt HIT", Dream Theater